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quinta-feira, 1 de março de 2012

Quem está por trás de Yoani Sánchez?


    Yoani Sánchez: a blogueira cubana, em imagem de arquivo tomada em Havana - Foto: Afp/Getty Images.  

                                                                                Salim Lamrani  

Yoani Sánchez, famosa blogueira havaneira, é uma personagem peculiar no universo da dissidência cubana. Jamais algum opositor se benficiou de uma exposição mediática tão maciça nem de um reconhecimento internacional de semelhante dimensão em tão pouco tempo.

Depois de emigrar à Suíça em 2002, decidiu regressar a Cuba dois anos depois, em 2004. Em 2007, integrou o universo da oposição em Cuba ao criar seu blogue Generación Y, e se torna uma acérrima detratora do governo de Havana.

Nunca em dissidente em Cuba – quiçá no mundo – conseguiu tantas distinções internacionais em tão pouco tempo, com uma característica particular: deram a Yoani Sánchez dinheiro suficiente para viver tranquilamente em Cuba o resto de sua vida. Com efeito, a blogueira foi retribuída à altura com 250 mil euros no total, quer dizer uma importância equivalente a mais de 20 anos de salario mínimo num país como a França, quinta potência mundial. O salário mínimo mensal em Cuba é de 420 pesos, quer dizer, 18 dólares ou 14 euros, no que Yoani Sánchez conseguiu o equivalente a 1.488 anos de salário mínimo cubano por sua atividade de opositora.

Yoani Sánchez está em estreita relação com a diplomacia estadunidense em Cuba, como assinala um telegrama, classificado de secreto por seu conteúdo sensível, que emana da Seção de Interesses Norteamericanos (SINA). Michael Parmly, antigo chefe da SINA em Havana, que se reunia regularmente com Yoani Sánchez em sua residência diplomática pessoal como o indicam os documentos confidenciais da SINA, manifestou sua preocupação a respeito da publicação dos telegramas diplomáticos estadunidenses por Wikileaks: "Me incomodaria muito se as numerosas conversas que tive com Yoani Sánchez fossem publicadas. Ela poderia sofrer as consequências por toda a vida". A pergunta que vem imediatamente na mente é a seguinte: por causa de que Yoani Sánchez estaria em perigo se sua atuação, como o afirma, respeita o marco da legalidade?


Em 2009, a imprensa ocidental mediatizou fortemente a entrevista que o presidente Barack Obama concedera a Yoani Sánchez, o que se considerou como um fato excepcional. Sánchez também afirmara haver mandado um questionário similar ao presidente cubano Raúl Castro e que este não se dignara em responder sua solicitação. Entretanto, os documentos confidenciais da SINA, publicados pelo Wikileaks, contradizem essas declarações.

Descobriu-se que na realidade foi um funcionário da representação diplomática estadunidense em Havana quem se encarregou de redigir as respostas à dissidente e não o presidente Obama. Mais grave ainda, Wikileaks revelou que Sánchez, contrariamente a suas afirmações, jamais mandou um questionário a Raúl Castro. O chefe da SINA, Jonathan D. Farrar, confirmou essa realidade em uma correspondência enviada ao Departamento de Estado: "Ela não esperava uma resposta dele, pois confessou que nunca as [perguntas] havia mandado ao presidente cubano".

A conta Twitter de Yoani Sánchez

Além do sitio Internet Generación Y, Yoani Sánchez dispõe também de uma conta Twitter e reivindica mais de 214 mil seguidores (registrados até 12 de fevereiro de 2012). Só 32 deles residem em Cuba. Por seu lado, a dissidente cubana segue a mais de 80 mil pessoas. Em seu perfil, Sánchez se apresenta do seguinte modo: "Blogger, resido em Havana e conto minha realidade em trechos de 140 caracteres. Twitteo vía SMS sem acesso à Web".

Não obstante, a versão de Yoani Sánchez é difícilmente crível. Com efeito, resulta absolutamente impossível seguir a mais de 80 mil pessoas, só por SMS ou a partir de uma conexão semanal desde um hotel. Um acesso diário à rede é indispensável para isso.

A popularidade na rede social Twitter depende do número de seguidores. Quanto mais numerosos são, maior é a exposição da conta. Do mesmo modo, existe uma forte correlação entre o número de pessoas seguidas e a visibilidade da própria conta. A técnica que consiste em seguir numerosas contas se utiliza comumente para fins comerciais, assim como pela classe política durante as campanhas eleitorais.

O sitio www.followerwonk.com permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da comunidade Twitter. O estudo do caso Yoani Sánchez é revelador em varios aspectos. Uma análise dos dados da conta Twitter da blogueira cubana, que se realizou através do sitio, revela a partir de 2010 uma impressionante atividade da conta de Yoani Sánchez. Assim, a partir de junho de 2010, Sánchez se inscreveu em mais de 200 contas Twitter diferentes por día, com picos que podiam alcançar 700 contas em 24 horas. A menos de passar horas inteiras do dia e da noite nisso – o que parece altamente improvável – resulta impossível abonar-se a tantas contas em tão pouco tempo. Parece então que foi gerado mediante um robot informatizado.

Do mesmo modo, se descobre que cerca de 50 mil seguidores de Sánchez são na realidade contas fantasmas ou inativas, que criam a ilusão de que a blogueira cubana goza de uma grande popularidade nas redes sociais. Com efeito, dos 214.063 perfis da conta @yoanisanchez, 27 mil 12 son ovos (sem foto) e 20 mil revestem as características de contas fantasmas com uma atividade inexistente na red (de cero a três mensagens mandadas desde a criação da conta).

Entre as contas fantasmas que seguem Yoani Sánchez no Twitter, 3.363 não têm nenhum seguidor e 2.897 só seguem a conta da blogueira, assim como a uma ou duas contas. Do mesmo modo, algumas contas apresentam características bastante estranhas: não têm nenhum seguidor, só seguem Yoani Sánchez e emitiram mais de 2 mil mensagens.

Esta operação destinada a criar uma popularidad fictícia vía Twitter é impossível de realizar sem acesso à Internet. Necessita também de um apoio tecnológico assim como de um orçamento correspondente. Segundo uma investigação que realizou o diario La Jornada, intitulada El ciberacarreo, a nova estratégia dos políticos no Twitter, sobre operações que implicavam candidatos presidenciais mexicanos, numerosas empresas de Estados Unidos, Asia e América Latina oferecem esse serviço de popularidade fictícia (ciberacarreo) a preços elevados. "Por un exército de 25 mil seguidores inventados no Twitter – diz o jornal – se paga até 2 mil dólares, e por 500 perfis manejados por 50 pessoas se pode gastar entre 12 mil e 15 mil dólares".

Yoani Sánchez emite uma média de 9.3 mensagens ao dia. Em 2011, a blogueira publicou uma média de 400 mensagens ao mês. O preço de uma mensagem em Cuba é de um peso conversível (CUC), o que representa um total de 400 CUC mensais. O salário mínimo em Cuba é de 420 pesos cubanos, quer dizer, ao redor de 16 CUC. Por mês, Yoani Sánchez gasta o equivalente a dois anos de salário mínimo em Cuba. Assim, a blogueira gasta em Cuba uma soma que corresponde, se fosse francesa, a 25 mil euros mensais no Twitter, quer dizer, 300 mil euros anuais. De onde vêm os recursos necessários a essas atividades?

Outras perguntas surgem de modo inevitável. Como Yoani Sánchez pode seguir a mais de 80 mil contas sem um acesso permanente à Internet? Como pode abonar-se a cerca de 200 contas diferentes diárias em média desde junho de 2010, com picos que superam 700 contas? Quantas pessoas seguem realmente as atividades da opositora cubana na rede social? Quem financia a criação das contas fictícias? Com que objetivo? Quais são os interesses que se escondem por trás da figura de Yoani Sánchez?

Salim Lamrani, graduado na Sorbone, é professor encarregado de cursos na Universidade Paris-Descartes e na Universidade París-Est Marne-la-Vallée, e jornalista francês especialista nas relações Cuba - Estados Unidos; autor de Fidel Castro, Cuba e os Estados Unidos (2007) e Dupla Moral. Cuba, a União Europeia e os direitos humanos (2008), entre outros livros.

Fonte:   site  Socialismo e Liberdade e La Jornada

Tradução: Sergio Granja

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