A grande imprensa do Brasil, e os demais veículos de informação, pouco espaço destinam
aos acontecimentos sobre os
conflitos e lutas das FARC- EP contra os invasores externos e
os lacaios internos que, há muito, vêm
destruindo os sonhos do povo colombiano.
Uma luta desigual onde até os
meios de comunicação tidos e ou tachados de imparciais e transparentes, contribuem
para colocá-los no ostracismo da história.
Pegar em armas para lutar pela
liberdade e dignidade humanas não parece ser uma opção muito racional, assim bradam e apregoam muitas pessoas que acreditam e
defendem alternativas
menos incisivas e que não inclinem para o dispêndio de grande dedicação, renúncias e doses elevadas
de coragem. Quiçá
por isso pensem assim.
Os imperialistas conhecem e bem sabem sobre a recíproca existente entre esses corajosos
revolucionários e aqueles que
caracterizam e combatem o sistema capitalista-levados a cabo e alimentados por
esses mesmos imperialistas e
mestres da atividade criminosa. Os movimentos guerrilheiros provocam grande excitação e medo entre os agentes criminosos do modelo capitalista. Os verdadeiros praticantes e adeptos dessa ideologia nefasta e imoral sabem bem disso. Será que não?
E este, o capitalismo, é o mesmo.
Nunca mudou sua essência e jamais o fará. Os principais protagonistas desse modelo
imoral e desumano disseminam, e nunca
foi diferente, que o máximo que
pode ser aceito, e então
alardeado pelas grandes corporações midiáticas , é o combate oblíquo contra suas “práticas e feitos”. Nada
além disso .
E ainda
há de se contar com aquele véu casuístico, que não permite a elucidação das relações
humanas, a marca indelével dessas grandes
corporações de informação. Será que um
dia as coisas serão diferentes?
A matéria que segue, de autoria Miguel Urbano Rodrigues, nos leva a reflexão de que há muito ainda por
fazer. Vamos a ela.
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As negociações de Havana estão desde o início armadilhadas. Mas tal não
impede que o balanço actual seja muito positivo. O interesse que as
conversações de Havana e o prólogo de Oslo suscitaram permitiu que a voz da
guerrilha chegasse a milhões de pessoas em dezenas de países. Em conferências
de imprensa, em entrevistas e artigos, dirigentes como os comandantes Ivan
Marquez, Rodrigo Granda, Jesus Santrich e outros projectaram a imagem real das
FARC e da sua organização revolucionária, incompatível com a perversa
caricatura que delas exportam Santos e os seus generais.
É inocultável hoje que o governo
de Juan Manuel Santos não está interessado em que as conversações de paz de
Havana atinjam o objectivo do acordo esboçado em Oslo com o patrocínio da
Noruega e de Cuba.
Esforça-se, pelo contrário, para impedir que
elas conduzam ao fim do conflito e à paz desejada pelo povo colombiano.
O chefe da delegação de Bogotá, Humberto de la
Calle, levanta repetidamente pretextos para ameaçar com o fim das conversações,
impedindo que a discussão dos itens da agenda avance.
A captura, supostamente pelas Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia – Exercito Popular, de dois polícias no
Departamento del Valle foi o último desses pretextos.
Cabe lembrar que a organização revolucionaria
declarou unilateralmente em 20 de Novembro do ano passado uma trégua durante a
qual suspendeu todas as operações ofensivas. Optou Santos por um gesto similar?
Não. A sua resposta foi uma intensificação da guerra pelo aparelho militar do
governo -hoje com 500.000 homens-, o maior e melhor armado da América Latina.
Toneladas de bombas foram lançadas desde então sobre os acampamentos
guerrilheiros.
Perante a situação criada, as FARC,
transcorridos os dois meses da trégua, retomaram o combate interrompido.
O governo, com o apoio dos media, acusou-as
imediatamente de comprometerem o bom andamento das conversações de paz. Para
confundir a opinião pública, no pais e no estrangeiro, o Exercito e o ministro
da Defesa, Juan Carlos Pinzon, recorrem a uma linguagem dupla.
Quando o Exercito prende guerrilheiros, os militares
e a imprensa informam que foram «capturados em combate». Mas quando elementos
das forças armadas oficiais são aprisionados pela guerrilha, o governo, a tv e
os jornais afirmam que «militares e polícias foram «sequestrados cobardemente
pelos narcoterroristas (ou bandoleiros e assassinos) das FARC.»
Humberto de la Calle, despejando insultos
sobre as FARC, inverte os papéis, responsabiliza-as pela estagnação das
conversações de paz e diz que elas «estão enganadas se acreditam que com este
tipo de ações vão obrigar o governo a um cessar-fogo bilateral».
Desmontando a mentira e a hipocrisia oficial,
as FARC colocaram os pontos nos ii num breve comunicado em que esclareceram:
“As FARC-EP comprometeram-se a não empreender
novas acções de caracter económico. Embora se mantenha a vigência da lei OO2
que se refere ao nosso financiamento, reservamo-nos o direito a capturar como
prisioneiros de guerra os membros da força pública que se rendem em combate. O
seu nome é PRISIONEIROS DE GUERRA, e este fenómeno ocorre em qualquer conflito
mundial».
Numa entrevista publicada pelo diário.info a
30 de Janeiro p.p. o escritor Carlos Lozano, diretor do semanário «Voz», órgão
do Partido Comunista Colombiano, denuncia a má-fé dos representes do Governo
nas conversações de Havana e a campanha que apresenta a Colômbia como um pais
democrático.
As eleições «à colombiana» - esclarece-
realizam-se «sob as condições e vantagens da oligarquia dominante. Por isso
temem as reformas, não aceitam modificar as regras da política porque são as
suas regras».
Neste contexto, é transparente que o governo
de Bogotá tudo faça para impedir que o processo de paz avance. O presidente
Juan Manuel Santos, numa pirueta algo inesperada, aceitou iniciar conversações
de paz, sob a pressão popular, porque está trabalhando para a sua reeleição,
alias problemática. Foi uma jogada política.
A oligarquia, o exército e Washington estão
empenhados no prosseguimento da guerra. Dirigindo-se recentemente aos seus
generais, usou uma linguagem agressiva, esclarecedora do seu pensamento: “todos
sabem que têm de triplicar o número de ações até terminarmos esta guerra pelas
boas ou pelas más».
O comandante Ivan Marquez, chefe da delegação
das FARC, arrancou a máscara de Juan Manuel Santos numa conferência de imprensa,
em Havana, no dia 1 fevereiro.
Lembrou que o governo recusou todas as
sugestões apresentadas pelas FARC para dinamizar a agenda no espirito do acordo
de Oslo.
Respondeu com um NÃO rotundo às seguintes
propostas:
- a realização em território colombiano das
conversações para a paz.
- a inclusão do comandante Simon Trinidad como
membro da delegação das FARC.
- discussão de um cessar-fogo bilateral com a
participação do ministro da Defesa e do general Alejandro Navas, comandante
chefe das FA.
- A «regularização» da guerra, ou seja a sua
humanização.
- a participação da cidadania nas conversações
para a paz.
- prioridade para o debate amplo e profundo da
questão agraria com a presença do ministro da Agricultura.
- a convocação de uma Assembleia Constituinte.
Temos a imagem do governo, da oligarquia e das
FA nos NÃO de Santos.
BALANÇO POSITIVO
Seria, portanto, uma ilusão romântica crer que
o desfecho do processo de paz de Havana será um acordo que abra a porta ao fim
do conflito.
O governo de Bogotá, em período pré-eleitoral,
tenta ganhar tempo e atenuar a combatividade das massas simulando uma abertura
ao diálogo. A história não se repete da mesma forma. Mas tudo indica que, em
data ainda imprevisível, imitará o ex-presidente Pastrana quando este rompeu em
fevereiro de 2002 as negociações com as FARC em El Caguan e invadiu a zona
desmilitarizada.
A transparência do plano de Juan Manuel Santos
torna pertinente a pergunta formulada por muitos dos que acompanham os diálogos
de Havana, incluindo gente solidária com o combate das FARC. Valeu a pena
iniciar estas negociações armadilhadas?
É minha convicção que o balanço é muito
positivo.
O interesse suscitado pelas conversações de
Havana e o prólogo de Oslo permitiram que a voz da guerrilha chegasse a milhões
de pessoas em dezenas de países. Em conferências de imprensa, em entrevistas e
artigos, dirigentes como os comandantes Ivan Marquez, Rodrigo Granda, Jesus
Santrich e outros projetaram a imagem real das FARC e da sua organização revolucionária,
incompatível com a perversa caricatura que delas exportam Santos e os seus
generais.
Tive a oportunidade de conhecer alguns desses
combatentes farianos. E reafirmo o que deles escrevi: poucas vezes encontrei
revolucionários marxistas mais autênticos, mais firmes, mais preparados
ideologicamente para a exposição e defesa dos objetivos, estratégia e táctica
da sua organização que se assume como partido.
As FARC apelaram agora mais uma vez à União
Europeia para que retire o seu nome da lista de organizações terroristas,
indesculpável erro cometido por pressão de Washington e do ex-presidente Uribe
Vélez.
Culpado de terrorismo de estado, inventor do
paramilitaríssimo e cúmplice do narcotráfico foi o governo no fascista de
Uribe.
Como português sinto amargura e vergonha por
Juan Manuel Santos ter sido recebido em Lisboa com honras especiais e elogiado
como chefe de um estado democrático.
Vila Nova de Gaia,9 de Fevereiro
de 2013
Fonte: site odiario Info.
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