Caciques e lideranças Tupinambá
reunidos em Olivença, sul da Bahia, divulgaram na manhã desta quarta-feira, 29,
um comunicado pedindo o fim da violência e do preconceito contra os povos
indígenas. A manifestação é dirigida às autoridades brasileiras e organismos
internacionais diante das repetidas violações de direitos humanos dos povos
indígenas no Brasil.
O Massacre de Caarapó, perpetrado
por fazendeiros contra a aldeia Tey’i Jusu e que terminou com o assassinato do
Guarani e Kaiowá Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza, no último dia 14 de
junho, além de outros seis baleados por tiros de arma de fogo, gerou revolta
entre os Tupinambá.
“Nós, povos indígenas, sofremos
quase que diariamente com ataques, criminalização e perseguições. Se não
bastasse o sangue que nossos antepassados derramaram por essa Terra com o
genocídio sofrido pelo povo indígena brasileiro”, destaca trecho do comunicado.
Os Tupinambá lembram que essa política de genocídio nasce no próprio Estado
brasileiro, que com medidas Executivas e Legislativas tentam desconstruir os
direitos indígenas.
Os Tupinambá lembram ainda das
declarações de ódio feitas pelos ruralistas. “Assim como acontece com os
parentes Guarani Kaiowá, nós também sofremos ataques de milícias armadas, e de
muitos interesses políticos da região. Aproveitamos para repudiar todas as
declarações caluniosas que são feitas aos nossos povos e pedimos providências
da Justiça brasileira e dos órgãos internacionais de Direitos Humanos contra
estas declarações”, diz trecho do comunicado.
Leia o comunicado na íntegra:
CHEGA DE VIOLÊNCIA E PRECONCEITO
CONTRA OS POVOS INDÍGENAS.
Nós, povo Tupinambá da região sul
da Bahia queremos mostrar o nosso apoio e solidariedade ao povo Guarani e
Kaiowá, e nossa total comoção, revolta e indignação com os recentes e
constantes ataques contra nossos parentes. Nós povo indígena sofremos quase que
diariamente com ataques, criminalização, e perseguições. Se não bastasse o
sangue que nossos antepassados derramaram por essa Terra com o genocídio
sofrido pelo povo indígena do Brasil. Nos tempos de hoje continuam a nos
atacar, perseguir, criminalizar. Em fim não se contentaram com os ataques aos
povos com a criação da PEC 215, PLP 227, portaria 303 da AGU. Resolveram voltar
ao tempo dos coronéis e a ordem agora é matar e extinguir os povos indígenas no
Brasil; o que já começou com os parentes Guarani Kaiowá. Queremos chamar a
atenção da população brasileira e internacional para o que esta prestes a
acontecer com nosso país. Ruralistas difamam e acusam que nós povos indígenas
somos um empecilho para o progresso, mas não percebem que nós estamos aqui para
ajudar a manter e proteger nosso maior tesouro, que é a mãe natureza – sem
falar que são eles que são “donos” de quase todo território nacional,
representando 1% da população brasileira. A outra parte das terras fica para
ser dividida com o restante dos brasileiros. A população precisa abrir os
olhos, porque eles querem acabar com nosso Brasil.
Com nós, povo Tupinambá de
Olivença situado nos municípios de Ilhéus, Una e Buerarema, Bahia, não é
diferente e também estamos sofrendo com os ataques políticos e a tiros. Na região
já são cerca de 30 assassinatos de indígenas por conta dos conflitos
relacionados ao processo de demarcação de terra, que vem rolando há cerca de 16
anos sem resposta concreta do governo federal. Agora recentemente o interesse
sobre o nosso território vem através dos mineradores que visam tirar de nossa
terra toda areia e minérios que ainda não conseguiram nos roubar, mais os
grandes empreendimentos que vem cada vez mais ocupando espaços em nossa região.
Enquanto isso, mais uma vez sofremos: sem nossa Terra sagrada que o sangue de
nossos antepassados foi derramou não temos como viver, porque a Terra é nossa
Mãe e Mãe não se negocia.
Assim como acontece com os
parentes Guarani Kaiowá, nós também sofremos ataques de milícias armadas e de
muitos interesses políticos da região. Aproveitamos para repudiar todas as
declarações caluniosas que são feitas aos nossos povos e pedimos providências
da Justiça brasileira e dos órgãos internacionais de Direitos Humanos contra
estas declarações que só incentivam e aumentam o preconceito e ódio contra o
nosso povo, a exemplo das diversas declarações do deputado federal Luís Carlos
Heinze (PP/RS) – assista aqui; e o último vídeo, onde ele faz acusações e diz
mentiras sobre o processo de demarcação de nossa Terra no sul da Bahia –
assista aqui.
Querem nos exterminar, mas cada
vez que morre um índio serve como semente e brotam novos guerreiros, pois
enquanto houver índio haverá luta pelo que é nosso por direito, que é a Terra!!
É preciso resistir para existir.
Olivença, 20 de junho de 2016.
Caciques e lideranças Tupinambá.
fonete: site PCB
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